9.7.04

 

O Momento Político

Passada a febre do Euro 2004, regressa em força a Política.

Com a auto-estima um pouco restaurada, pelos vários êxitos futebolísticos alcançados, mesmo se incompletos, pela final perdida, eis que se impõe de novo a realidade da nossa política doméstica, desgraçadamente servida por actores menores, cada vez mais, eles mesmos, desmotivadores do desejável interesse dos cidadãos pela coisa pública.

Durão Barroso bem pode apregoar o grande prestígio para Portugal que a sua escolha para Presidente da Comissão Europeia representa, que a impressão que todos os dias se reforça é a de que a confusão em que nos lançou não compensa, nem por sombra, o discutível ganho da sua nomeação para tão elevado cargo da União Europeia.

Quando o balanço se começar a fazer, ver-se-á que o único beneficiado terá sido a sua própria pessoa e não faltará quem lhe aponte a embriaguez da vaidade pessoal subitamente lisonjeada e regaladamente satisfeita.

Até ao momento, poucos se atreveram ainda a contestar a sua opção. Parece até que ela contempla vários interesses pessoais longamente acalentados, redundando, assim, a contento de várias figuras notáveis do PSD.

Santana Lopes, porque nela encontra milagrosamente uma saída airosa para as sucessivas embrulhadas em que, sem brilho e sem glória, se havia metido nos diversos objectivos que elegera para o seu primeiro mandato de Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, ao mesmo tempo que, finalmente, ascende à ambicionada chefia do Partido ; Durão Barroso, porque – objectivamente – deste modo se furta à contestação política, que, a partir da pesada derrota sofrida nas eleições europeias, se iria agravar até ao final do mandato, dado o previsível difícil parto de uma anunciada iminente retoma económica, sucessivamente adiada ; os muitos autarcas e demais líderes das estruturas regionais do Partido também, porque viam em Santana Lopes um político mais acessível, financeiramente mais generoso, aos seus anseios de exibição de obra feita, indispensável, como sempre, para a sua reeleição daqui a um ano.

Raramente, como se reconhecerá, uma solução verdadeiramente inesperada, nunca antes sequer imaginada por algum dos felizes contemplados, encontrou tantos desejos concordes e aparentemente tão fáceis de contentar.

Mas, também inesperadamente, a sôfrega ambição, por vezes, leva-nos a perder, quando agimos pelos primeiros impulsos.

Alguém subestimou aqui a actuação do PR, dando por garantida a sua passividade na aceitação da substituição da chefia do Governo a propor-lhe.

Pelo visto, o PR lembrou-se de que fora eleito por sufrágio directo e universal, por maioria clara, dispondo, por isso mesmo, de legitimidade incontestável para decidir da solução política a encontrar.

Poderia mesmo, ele próprio, assumir a condução da resolução do actual imbróglio criado pela alta nomeação – embevecidamente aceite por Durão Barroso – e nomear uma personalidade, de prestígio profissional e político inatacáveis, para, sem atender a vínculos partidários, formar um Governo que asseguraria o restante período da presente legislatura.

Claro que o Parlamento poderia, por assomo de despeito, derrubar esse Governo, mas, então, assumiria as consequências desse acto e, por seu turno, correria logo o risco de se ver dissolvido, levando a que todos tivessem de medir novas forças eleitorais.

Esta última opção, sendo todavia legítima, dificilmente Jorge Sampaio sequer a encarará, porque ela lhe exigiria uma forte assunção de coragem política, que sinceramente não lhe vislumbro.

Voltarei brevemente à conjuntura política, para abordar o tema da nossa debilitada, apesar de jovem, democracia, caída nas mãos ávidas de impreparadas figuras, facilmente manipuladas, como se vê, pelos crescentes poderes ocultos dos múltiplos grupos de pressão, que, sobretudo na última década, por essa mesma razão, de todo o lado têm emergido.

António Viriato

Lisboa, 08 de Julho de 2004

Comments:
caro amigo. aceite a minha solidariedade pela quest'ao pol[itica, aqui vivemos coisa semelhante, a nivel estadual, aqui no Rio de Janeiro a coisa est[a de chorar, aguardemos o pleito municipal. torci muito por portugal, foi uma belissima campanha. abra;os do amigo carlos. (www.basilides.blogger.com.br)
 
Caro amigo, vou cadastrar um novo "comments", espero que de certo. grande abraço. Carlos(www.basilides.blogger.com.br)
 
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